MARATONA TEATRAL DE FÉRIAS

MARATONA TEATRAL DE FÉRIAS

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

CARTA ABERTA PARA TERESINA*

Sabe, Teresina. Quero te confidenciar uma coisa: em outros tempos cantei muito tua história, teus heróis, teus mitos. Mas hoje não. Olhando cada face, cada rua aqui, cada rio, cada praça ali, encho-me de uma certeza inevitável: tua carne é urdida de fibra, sangue e suor de cada ser teu, que te recebe e te abraça a cada romper de um novo dia.

A cidade se revela fazendo brotar de todos que te teresinam o orgulho e o respeito de sermos nós sendo cada traço desta tela que colorimos. E nesta trilha aberta, onde esbarro na face multifacetada desta cidade, enquanto firmo o olhar no horizonte que se figura no fim sem-fim da estrada, deixo-me arejar pelo coqueiro que enamora a bela carnaúba que faz cera relutante em se entregar à boca da noite.

Ainda conservas em ti a candura das palavras eternas. Nas crenças, nas lendas, na fé. Tradições que se mantém vivas; na madeira e no barro que se fazem história na mão do homem que os eterniza em seu suor – sala de visita aberta para o mundo.

Como esquecer-te? Teus domingos de sol na coroa do Parnaíba. Dançar um forró agarradinho e depois cair nos braços da morena, que faceira, espicha olhar do jovem cabeça-de-cuia, que sai do seu mundo pra assustar moças donzelas em noite de lua cheia.

E quando a noite desce seu manto... moça namoradeira, num se pode acreditar!, acende a luz no coração do bêbado incrédulo, desafiante das madrugadas famintas de amor. Histórias de assombrar. Crianças que caem em sonho profundo, que boi vem pegar... Laços de fita, tramas do amar. Ah! As tertúlias do Clube dos Diários, belos bailes, alegrias de Momo, noites de nunca mais...! E nas palavras do poeta e no lábio doce da menina, existirmos... a que será que se destina?

Teresinar: cantar tua vida – criatividade, inventividade, força e arte do teu povo. Perceber, na mão que trança as folhas do abano, o agito do leque nas tardes quentes; que o suor do homem simples que labuta cada esquina tua, fertiliza esta terra prenhe de histórias e vidas que se misturam no vaivém da metrópole; que o rio que encalha a produção, escoa sonhos e delírios na mente imaginativa do poeta. Reconhecer em cada rosto que passa, cada palavra cantada em verso e prosa, em riso e lágrimas de concreto armado, o futuro de uma história que segue sua trilha sem perder de vista os passos que o tempo deixa cravados em cada um de nós.


Vitorino Rodrigues

*Texto escrito para o espetáculo “Eu Teresino”, comemorativo dos 153 anos de aniversário de Teresina, em 2005.

Nenhum comentário:

Postar um comentário